Projeto para exposições, conversas e oficinas

Outubro de 2012 a Setembro de 2013

Direcção Artística: Cristina Mateus e Maria Mire

Este projecto, ao articular vários momentos de trabalho, investigação e conversa, constrói-se como uma rede de relações. Momentos que procurarão numa primeira instância acolher uma prática artística que se formalizará numa residência na Casa da Imagem da Fundação Manuel Leão. Os artistas — Manuel Santos Maia, Mónica Baptista e Luísa Homem — serão igualmente convidados a desenvolverem oficinas artísticas de modo a fomentar um regime de partilha que convoque toda uma comunidade para o interior da Casa da Imagem. No final destes dois momentos — residências e oficinas — todo o processo de trabalho, assim como os resultados produzidos serão formalizados numa exposição. A qual será intersectada por um ponto de situação em forma de conversa, que pretenderá reunir um conjunto alargado de intervenções. Para estas conversas pretender-se-á convocar tanto os participantes activos do processo artístico, assim como intervenientes que expandam o trabalho realizado e potenciem articulações com o espólio do fotógrafo Teófilo Rego, pertencente à Fundação Manuel Leão. E a partir da reunião dos conteúdos produzidos, realizar-se-á uma publicação que agregue todos os momentos deste projecto e que possibilite de algum modo um mapeamento dos desdobramentos possíveis da acção da Casa da Imagem.

A (nossa) Imagem da Casa

Ao entrarmos nesta casa é mesmo aí onde entramos: numa casa onde moram pessoas e onde, também sabemos, se quer que muitas outras pessoas venham a morar. Além das pessoas a morar ali, a entrar e a sair, esta é uma casa onde moram imagens. As imagens neste momento estão guardadas, bem guardadas, como prisioneiras em prisão domiciliária. Não as vimos ainda, estão guardadas no negro da noite. Nos momentos de distracção, no entanto, os guardas destas imagens deixaram algumas fugir. A distracção dos guardas deixou-nos ver algumas delas. E essas puxam outras que lá estão.
Apesar destes guardas que as resguardam, as imagens poderão por fim viver fora da casa, ou do quarto que habitam, e escapar para outros quartos, para outros lados. Enquanto não aparecem os guardas substitutos, as imagens entrarão em frenética consciência de liberdade do mesmo modo que um provável condenado à prisão terá vivido os momentos anteriores à sua detenção ou à sua morte: a fugir da captura (Godard, Bande à part) . O condenado tenta fazer tudo o que tem para fazer antes de.
Este conjunto de coisas, as exposições, as conversas, as oficinas, será como tentar o tudo que há para fazer. Coisas e mais coisas será o que haverá a fazer com as imagens e com o que lá está no interior da casa.
Exposições com as imagens e exposições a fazer imagens. A casa está à espera delas e das pessoas que lhes mostrarão os brancos da luz do dia.
Além das imagens de que tanto falámos existem também os sons, os ruídos. São conversas. São conversas clandestinas como as imagens a escapar. São conversas na noite, no quase negro do quarto fechado. Sem luz. São conversas, sussurros, segredos que tentaremos guardar bem guardados, que ficarão prisioneiros nas paredes da casa. Serão conversas que se tem sobre o que se passou, sobre o que se passará. São conversas como os ruídos caseiros o são.
Por fim, e porque partirá daqui também a libertação das imagens, teremos as oficinas (os ateliês), pois o trabalho será feito por lá, na tentativa e no erro: no mais ou menos dos cinzentos, no espaço entre.

RESIDÊNCIAS, CONVERSAS, OFICINAS

1ª residência_Outubro/Dezembro: Manuel Santos Maia
2ª residência_Janeiro/Maio: Mónica Baptista
3º residência_Maio/Setembro: Luísa Homem

Manuel Santos Maia (Moçambique, Nampula, 1970)

Vive e trabalha no Porto.Licenciado em Artes Plásticas – Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.Doutorando do Doutoramento em Artes Plásticas e Artes Visuais “Modos de Conhecimento na Prática Artística Contemporânea” pela Universidade de Vigo. Foi docente das disciplinas de Pintura e de Desenho do Curso Superior de Artes Plásticas e Tecnologias, do Curso de Pós Graduação em Direcção Artística na Escola Superior Artística do Porto – Extensão de Guimarães. Actualmente é docente da disciplina Projecto IV da Licenciatura em Artes Visuais – Fotografia na Escola Superior Artística Porto e da disciplina Artes Visuais da Pós-Graduação em Comunicação e Gestão Cultural da Universidade Lusófona do Porto. Organizou e co-organizou exposições individuais e colectivas de jovens artistas no Porto, Lisboa, Faro, Braga, Guarda e Elvas. Desde 1998 tem organizado debates, conversas, conferências e apresentações com criadores de diferentes áreas artísticas, curadores, artistas-comissários, críticos e historiadores. Entre Dezembro de 2008 e Julho de 2009 foi responsável pela programação do Espaço Campanhã.

Enquanto artista, Manuel Santos Maia expõe regularmente desde 1999. Em 1999 concebe projecto “alheava” que tem vindo a apresentar até ao presente ano. Contemplando diversas práticas artísticas, como a instalação, a fotografia, a pintura, o vídeo, a performance, o teatro e o som, as várias mostras têm sido apresentadas em diferentes países como Inglaterra, França, Estados Unidos da América, Bélgica, Espanha, Noruega, Macau e Argélia e em diversas cidades nacionais como Porto, Lisboa, Coimbra, Lagos, Oeiras, Guimarães, Braga, Tomar, Cascais, entre outras. No mais recente projecto non, idealizado em 2003 e apresentado desde 2006, como no projecto alheava MSM cruza a noção de documento com a experiência individual e familiar, para alcançar uma espécie de “memorabilia” colectiva, enquanto espelho antropológico que nos liga a todos pelo filtro de uma “intimidade documentada”.

Mónica Baptista (Portugal, Porto, 1984)

Estudou Artes Plásticas-Pintura na Faculdade de Belas Artes do Porto. Nos últimos anos tem desenvolvido trabalho na área da fotografia, vídeo, cinema experimental e documental. Esteve em residência artística na ZDB (Lisboa, 2010) e na Location One (Nova Iorque, 2011) com bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian.
O seu trabalho tem sido exibido em Portugal e internacionalmente, em galerias, museus e festivais de cinema. Destacam-se o prémio BES Revelação (2011) com o filme Diário, exibido no Museu de Serralves e o filme Territórios (2009) estreado na Semana da Crítica (Festival de Cannes) e vencedor do prémio de melhor realização no festival Visions du Reel (Suiça).

Luísa Homem (Portugal, Lisboa, 1978)

Licenciou-se em Ciências da Comunicação, na Universidade Nova de Lisboa, e especializou-se na variante de Cinema.  Durante esse período colaborou com o Laboratório de Criação Cinematográfica, onde realizou a instalação Obsessões Avulso e dois documentários para o Departamento de Belas Artes da Fundação Calouste Gulbenkian, Pintura S/Título sobre o pintor António Sena e Short Story sobre o fotógrafo Daniel Blaufuks.
Em 2004, frequentou o Curso de Realização de Documentários promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian em colaboração com os Ateliers Varan, no âmbito do qual realizou o documentário Cartas de Cabo Ruivo.
Em 2006 realiza Percursos Visuais, making of do Curso de Fotografia  da FCG. No mesmo ano cria a produtora PATÊ Filmes com Pedro Pinho e Maria Mire, na qual trabalha em diversos filmes institucionais e publicitários.
Em 2007 realiza Retratos, filme encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito do Fórum Gulbenkian Imigração.
Em 2007-08 colabora no filme Bab Sebta de Frederico Lobo e Pedro Pinho (produção, imagem, montagem). Colaborou igualmente na montagem de Estado de Excepção, de Ricardo Seiça, Retrato de Inverno de uma Paisagem Ardida de Inês Sapeta, O presente que vem de longe e Visita Guiada de Tiago Hespanha, MHM (sobre Manuel Hermínio Monteiro) de André Godinho e A casa que eu quero de Joana Frazão e Raquel Marques.
Em 2008 cria a produtora TERRATREME, em colaboração com Pedro Pinho, Tiago Hespanha, Leonor Noivo, João Matos e Susana Nobre (fusão entre a PATÉ Filmes e a RAIVA).
Em 2009, recebeu a bolsa do INOV-ART e coordenou com Pedro Pinho o Laboratório de Cinema Documental NOMADLAB realizado em Maputo (entre junho de 2009 e janeiro de 2010) em colaboração com o Festival Dockanema.
Em 2010 fez a imagem da série televisiva Eu sou África realizada pela Maria João Guardão para uma série da RTP2.
Em 2011 realiza a série televisiva Um dia no museu (13 episódios) produzida pela C.R.I.M para a RTP2.
Em 2012 trabalhou na montagem de Lacrau de João Vladimiro, e foi consultora de montagem dos filmes Bela Vista e Cama de Gato realizados por Filipa Reis e Miller Guerra. Actualmente,  trabalha na montagem do documentário As Cidades e as Trocas, co-realizado com Pedro Pinho e na ficção Um fim de mundo, do mesmo realizador.